Então de que tamanho é o Yamandu?

De repente, a cidade foi tomada por um alvoroço inexplicável. Todo mundo falava sobre a mesma coisa, embora ninguém  soubesse ao certo  sobre que coisa era aquela de  que todos falavam. De concreto,  o que se tinha era a notícia de que chegaria a pequena e pacata Rio dos  Currais, um músico de nome Yamandu, para um concerto no teatro municipal, em comemoração ao centenário  de emancipação da menor cidade do Vale do Salitre.

O prefeito mandou alardear a semana toda no jornal Gazzeta Popular que traria um grande violonista para debulhar o que de mais alvissareiro houvesse  no cancioneiro pátrio, em “louvação  ao primeiro século da cidade  que era “cuspida e cagada” o próprio  processo  civilizatório  da população  ribeirinha do Velho Chico”, rio caudaloso que cortava  o pais do sudeste até  a  região  inóspita do Nordeste.

Passado de mão  em mão  o pasquim local, as pessoas, tomadas de surpreendente e impaciente curiosidade ante as credenciais do notório  musicista anunciado pelo senhor prefeito,  homem cuja honra e a educação familiar  jamais permitiria  que se desse ao desatino do exagero ou da mentira, começaram  a indagar quem seria esse notável tocador, cuja patente o habilitava a abrilhantar a festança  dos cem anos de Rio  dos Currais.

Por conta disso, a rotina da cidade sofreu fortíssima alteração. Nas praças, nos bares, nas igrejas… Em toda parte, todos queriam saber quem era o grande músico. E se era de fato grande, como propagara Adalberto Coriolano, prefeito de primeiro mandato, que vencera o protegido de Antenor Calvacante, verdadeiro sucessor do saudoso  Etevaldo Elesbão,  por uma margem de voto  tão  pequena que  dúvida nenhuma deixava  que faltou boca de urna.

E no afã de obter qualquer informação sobre o tal músico Yamandu, a população de Rio dos Currais, antes alheia à pesquisa ou à investigação que demandasse esforço intelectual, de uma hora para outra povoaram as duas bibliotecas da cidade e as três Lan House que cobrava por hora de acesso aos modernos computadores, capazes de esmiuçarem os mais recônditos pormenores de fulano ou de sicrano se bem manejados pelo o usuário.

Passados alguns dias, história diversas começaram a circular na cidade sobre o músico Yamandu.  Alguns davam conta de que era um artista internacional, profissional abastado nas notas musicais e nas notas de dinheiro, que viria prestigiar a cidade não pelo cachê, pois se cobrasse o que merecia, dificilmente o erário municipal poderia fazer frente sem que o chefe do executivo fosse  deposto pelo processo de impeachment, num ritmo  sumaríssimo, mas porque suas raízes  apontavam para um certo parentesco com a família  de Luncinda Elesbão,  eterna primeira dama, alçada  a locação  de santa depois dos aperreios sofridos com a doença  matadeira que quase dizimou a população  de nossa cidade.

Entretanto, o que mais se discutia na pequena Rio dos Currais, não era exatamente quão habilidoso em seu instrumento pudesse ser o violonista Yamandu, mas porque não  trazer um sanfoneiro  local que tão  bem saberia  tocar a Ave Maria de Luiz Gonzaga, ao invés  de um arranhador de violão  do Rio Grande  do Sul.

Na cerimônia de abertura dos festejos, cinco dias antes da apresentação do Grande violonista, como insistia o prefeito em se referir a Yamandu,  houve  interpelação  popular querendo  saber porque o prefeito  convidara um forasteiro para animar a festa de aniversário  da cidade. O prefeito, disposto a não descontentar ninguém, disse aos eleitores que consultaria os assessores que indicaram o músico e comunicaria, em breve, sua posição, pois poderia rescindir  o contrato até  três  dias antes do show, pagando apenas quarentena  por cento do valor  acertado.

No dia seguinte, pela manhã, o prefeito correu ao quarto de seu filho intermediário, às dez horas  e disse sem  arrodeio:

— Por que você me convenceu a contratar esse tal de Yamandu para ser a apresentação principal do centenário da cidade?

O filho então convidou o pai a ouvir um vídeo qual o guitarrista da banda IRA!, Edgard Scandurra anunciava o violinista como o maior músico do mundo.

O pai ficou abismado como o talento de Scandurra. O filho disse afinal:

_ Se o Edgard Scandurra, que é um guitarrista excepcional, o chama de maior do mundo, então de que tamanho é o Yamandu?

Por: Ponciano Ratel.

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