E APOIS!… A grande Literatura Brasileira.

Aferro-me inescapavelmente à conjectura de que o patriotismo é de fato o último refúgio dos canalhas. Jamais me ative ao nacionalismo pueril ou extremado que demarca as relações atuais no Brasil. No entanto, é forçoso admitir a existência de uma particularidade que denota um cultivo demasiado a certo grau de brasilidade, traduzida num ufanismo desmedido a nossa literatura, pois a coloco lado a lado das grandes realizações literárias mundiais, desde França, Inglaterra, Rússia, Itália, Estados Unidos – só para citarmos os mais reverenciados, sem olvidar as obras-primas do mundo árabe – até a exuberância literária da América Latina.

Li recentemente que Machado de Assis finalmente caiu no gosto dos americanos, pois, no mês passado uma nova tradução do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, com o título em inglês de “The Posthumous Memoirs of Brás Cubas”, feita pela pesquisadora Flora Thomson-Deveaux, esgotou-se em apenas um dia na Amazon e na livraria Barnes & Noble.

 Noticia ainda a revista Exame, que no site da Amazon, o livro é o mais vendido na categoria “Ficção Latino-americana e caribenha”, levando a tradutora a afirmar em seu perfil do Twitter: “Estou ciente de que não é o momento de celebrar o lançamento de um livro, mas eu não teria dedicado anos da minha vida para traduzir este aqui se eu não estivesse convencida de que é uma obra para todas as eras”.

Na esteira desses acontecimentos, aflorou em mim o nacionalismo literário sobre o qual divago agora. Então, motivado por esta velha percepção da grandeza da literatura brasileira, veio-me à memória as palavras do crítico literário Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), que num texto sobre a importância do romancista José Lins do Rego, assim escreveu sobre a presença da mulher em nossa literatura:

“(…) Seria um estudo curioso a fazer o da confrontação entre três galerias femininas em três dos nossos grandes romancistas – em Machado de Assis, José Lins do Rego e Érico Veríssimo. Em Machado de Assis, são as mulheres que manejam os homens, pela malícia, pela dissimulação, pela graça, pelo espírito, encabeçadas por essa figura típica de Capitu, que é como que o eterno feminino, em plagas brasileiras, na concepção de um romancista desenganado dos velhos privilégios do “sexo forte”. É a expressão do romance citadino, da vida moderna, da civilização praieira, dominada pelas mulheres.

Em Érico Veríssimo, e nos costumes do “pampa”, as mulheres representam a ausência do homem e a trágica espera. Nos lares e nas estâncias desertas de homens, empenhados em lutas militares e políticas, a mulher ouve o vento da campanha e cuida dos trabalhos domésticos e fica em silêncio bordando ou tratando dos filhos, nas longas vigílias das noites de solidão. Mas são figuras varonis, ou pelo menos Penélopes da ausência masculina.

Ao passo que na galeria feminina de José Lins do Rego, o que vemos é a presença e a não-ausência do homem, cuja lei é que impera. É a servidão feminina, é a “mulher submissa” de que falou Capistrano, são as filhas enlouquecidas pela solidão ou pela rudeza paterna.  Os casamentos de conveniência, o sacrifício silencioso das mulheres à lei do homem. E no meio desse rebanho de sacrificadas, as histéricas ou satânicas, filhas ainda da condição marginal a que as condena esse “machismo” violento que o sertão secreta como fruto ácido da insegurança e do primitivismo das paixões. (…)”.   

As passagens acima são referências para o propósito exposto nesse texto, que almeja expressar a opinião do autor acerca da grandeza da literatura brasileira frente às grandes escolas estrangeiras. Não tenho a pretensão de me ater ao mérito do que fora dito pelo crítico literário sobre as obras dos citados romancistas, até porque, creio eu, apreender o que quis dizer o escritor quando publica um livro, resume-se fatalmente à compreensão que o leitor tem do que leu. E assim são as críticas literárias, sem exceção.

Por fim, para corroborar com a tese trazida de que a literatura brasileira é uma das grandes no mundo, a análise de Alceu Amoroso Lima se presta para apontar que tal qual Anna Karenina de Tolstói, Madame Bovary de Flaubert, as grandes criações femininas povoam também nossa literatura, ostentando o mesmo patamar de importância das grandes obras estrangeiras. Para confirmar o que digo basta lê as obras de Clarice Lispector ou o livro As Velhas de Adonias Filho.

Por: Adão Lima de Souza.

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